Espírito Heroico
Diante de seus olhos os penetras veem o farol
que por tanto tempo parecia apenas um sonho distante. Todos sabiam que essa
batalha decidiria provavelmente o destino de Sombrata, não... Wayland.
Experientes como eram agora, o fantasma da morte os assombrava, sabendo que a
qualquer momento poderia ser seu último suspiro. No entanto, apesar de qualquer
medo que já tivessem tido do escuro, acreditavam que a coragem em seus corações
fosse capaz de iluminar parte do mundo. Acendendo o farol, a esperança daqueles
que desistiram de lutar, seria revigorada. Uma equipe formada por pessoas tão
diferentes... Que grupo seria melhor para tal missão?
Quem
melhor para enfrentar o medo do que o determinado e forte guerreiro do norte,
capaz de desafiar até mesmo um guardião.
Quem
melhor do que o paladino de Daarth, que com sua fé inabalável no correto, foi
capaz de enfrentar seu próprio Deus.
Quem
melhor que um Orc nascido na era das sombras, mas que era capaz de lutar contra
sua própria espécie e negar tudo que se tornaram.
Quem melhor que o flautista, que mesmo tendo
sido tocado pelas trevas, ainda tenta bater suas asas e voar mais uma vez.
Quem melhor que a feiticeira, a prodígio em
sua área, que nasceu com poderes avassaladores, mas tem a humildade de buscar o
conhecimento.
Quem melhor que o capitão pirata, astuto
guerreiro do mar, que assim como em uma embarcação, está enfrentando a maior
maré que a tempestade trouxe para sua vida.
Quem
melhor que o pequenino, com uma coragem maior que qualquer gigante que pisou
nessas terras.
Quem
melhor que o mago, que como o mais antigo do grupo, falhou inúmeras vezes em
proteger seus irmãos de guerra, mas espera uma chance de se redimir.
Quem
melhor que a bondosa Deusa, que apesar de sua bondade, carrega uma escuridão
gigantesca em seu coração.
Um
grupo tão poderoso, mas também tão fraco; cheio de falhas, mas também com
muitos acertos; que está sempre brigando, mas é extremamente leal. Aliados,
amigos, irmãos... irmãos que estão dispostos a sangrar uns pelos outros e
completar a difícil missão. Com seus corações em um ritmo ressonante após
enfrentar poderosos dark elves, diferentes de todos que viram até hoje,
resolvem ir logo para o farol, preocupados com o que Draven poderia estar
fazendo lá, a cada minuto que passava.
Eles
contavam com a ajuda de um, apesar da idade, poderoso aliado de apenas 13 anos.
O garoto era ambicioso, assim como o coração de todos os penetras. Mesmo com os
apelos de Lyra, o menino chamado Katzar não teve dificuldade para ser aceito no
grupo, que mais do que nunca, precisaria de toda força que pudessem dispor. No
entanto, Cael, após sua reza, tomou uma difícil decisão. Ele que talvez seja o
que mais se importa em proteger seus aliados, não iria participar da jornada
dentro do farol. Ele tinha uma batalha iminente com um poderoso inimigo, esse
que no passado foi empalado por sua lança. Enfrentar tal inimigo sozinho e com
a carência de um Deus olhando por si, mostra sua determinação tornando-o alguém
além de um simples paladino devoto a deuses, mas sim um paladino de Wayland. Se
um dia achava não ser merecedor do título “Cavaleiro de Albrieth”, nesse
momento ele já era um.
Após
a separação e quase divina música de Marbas, capaz de curar até mesmo as
feridas do coração, os penetras adentraram o farol onde em sua base descansava
um altar. Nele havia um cristal com uma semelhança assustadora ao antigo
fragmento que continha o poder da deusa. Mesmo com toda a incerteza, todos
tocaram-no com sincronia perfeita, sendo enviados para algum lugar.
Aloys... não... Eu... Acordei em uma sala
que brilhava dourado, suas paredes eram todas feitas de ouro. Preocupado, olhei
para os lados e para minha alegria e ao mesmo tempo tristeza, apenas Bo buxoa
estava comigo. Sem tempo para entendermos o que estava acontecendo, do pilar
central da sala onde havia desenhos em perfil de jacob e katzar, uma máscara
apareceu e disse:
-
Bem-vindos, a Juiz executado, essa é a sala onde serão julgados.
Sua
voz era extremamente mecânica. Ela não apresentava nenhum sentimento ou desejo
próprio. Lembrava-me os malditos constructos, que eram mais chatos que Rurik
quando vê homens musculosos.
- As decisões tomadas aqui, irão afetar as outras
salas, e aqueles que nelas se encontram. – Continuou ela.
Dito isso, desapareceu e onde ela estava,
apareceu um cavaleiro... não! Acredito que fosse um paladino, mas não qualquer
paladino, ele era um paladino de Daggodar e Sacerdote. Ele estava com uma
flecha cravada em seu corpo e aparentemente só tinha alguns minutos de vida.
O paladino começou a contar uma história que
terminava em uma tragédia, na qual uma moça morria no final.
“Principe Fernand é perdidamente apaixonado por Dianys. Mas
ela não o ama. Um dia, Fernand vai ao Rei e pede a mão de Dianys em casamento. Dianys
implora ao rei para que não a case com Fernand, mas o Rei ignora seu apelo. De
acordo ao protocolo real ele deve dizer sim a união. Eles se casam e Fermamd
leva Diana de volta para seu reino. Aquela noite ele tenta consumar o
casamento, mas Dianys, perturbada, escapa. Ela corre da segurança do castelo
pelos campos, ignorando o sinal que alerta sobre perigo que lá havia. Naquele
campo há um touro, que, ao ver a moça, a ataca. Ela cai sobre seus chifres e é
morta instantaneamente.”
Sem cabimento nenhum, e provavelmente
o motivo de eu odiar a maioria dos paladinos, ele pergunta:
- Quem é o culpado da morte da moça? Ordenem
do mais culpado ao menos culpado.
- Não
irei julgar, deixarei para os juízes infernais decidirem, não sou ninguém para
escolher – Falei com um gosto amargo na boca.
Ele mais uma vez enfatizou que precisávamos
escolher, tinha que completar seu trabalho de paladino uma ultima vez. Viver a
vida sendo comandado por outros é algo ridículo, usar o livre arbítrio para
limitar a própria liberdade é quase paradoxal. No entanto, Bo Buxoa escolheu
quase que aleatoriamente uma ordem, mas acentuou o ponto onde achava que a moça
era culpada por sua própria morte.
Com a
escolha feita, o paladino desapareceu, e de um local da sala que não tinha
visto, surgiu uma criatura onde havia a imagem de uma moça sorridente. Aquela criatura
eu não confundiria mesmo que estivesse a um quilômetro de distância, era uma
Banshee. A mesma criatura que levou de nós na última empreitada na cidade dos
elfos. Não sei se foi a vontade de Wirenth, mas senti que Alvorada deu uma leve
piscada em sua lâmina, enquanto Bo Buxoa segurava ela apontada para a Banshee.
Naquele momento pensei que sentiria raiva, mas
o único sentimento que senti foi compaixão. Banshees são criadas através do
desespero, amaldiçoadas, e além de todo desespero da moça, nós escolhemos ela
como culpada de sua própria morte. Nesse momento agi de um modo extremamente
diferente do que normalmente ajo, deixei toda cautela de lado e fui até ela.
Chegando perto dela disse:
- Eu
sou o touro que lhe matou, o rei que a condenou e o homem que a amou – ela
prendeu a atenção em mim, enquanto eu falava – descarregue toda sua raiva,
rancor e descontentamento em mim, eu aceitarei tudo e não levantarei minha mão
contra você – dito isso, abri os braços.
Ela parecia confusa. Tentou mais de uma vez
me atacar e não conseguia, até que por fim conseguiu, mas sua força estava
extremamente reduzida. O corte em meu peito doeu, mas a cada segundo que suas
unhas passaram em minha carne, eu pude sentir como se fossem lágrimas
derramadas por ela, então as aceitei sem mexer um músculo.
Para
minha surpresa, Bo Buxoa que aparentava não gostar muito de mim, gritou:
- Aloys! Eu vou protege-lo!
Ele correu em direção a Banshee com Alvorada
em punho, reluzente como nunca, e estava pronto para ataca-la. Quando passou
por mim, falei:
- Não
se esqueça, “estamos sendo julgados”.
Ele parou e permaneceu alguns
segundos hesitante, mas em seus olhos eu podia ver a pureza e determinação de
alguém que queria proteger um amigo.
Alvorada desceu e com uma luz tão brilhante
quanto a aurora ao subir do sol nas primeiras horas do dia, ceifou a criatura
em forma feminina.
- Obrigado por me defender Bo Buxoa, eu
estava pronto para morrer – falei.
-
Salvei você mais uma vez mago, não se preocupe, eu estou aqui – disse ele como
sempre, apesar de ser a primeira vez que isso realmente acontece.
Uma chave dourada surgiu em minha mão. Ela
provavelmente era nossa porta de saída dessa sala, mas antes que pudéssemos
entender como ela era usada, um colar surgiu no chão, no local onde a banshee
havia morrido. Quando peguei, percebi que ao abrir ele havia uma foto, mas não
gosto de lembrar de coisas assim.
- Bo Buxoa,
você deve saber disso, mas... – falei ainda olhando para a imagem – esse mundo
não há justiça – completei cuspindo no chão, com nojo da realidade. Para nossa
surpresa ao falar isso fomos sugados para algum lugar que acredito ser uma
memória, pois as pessoas que víamos não pareciam nos ver.
Nela
vi alguém escrevendo em um pergaminho gigante. Ele terminou o pergaminho escrevendo
um último parágrafo:
“Na praia onde
antigos deuses sucumbiram frente aos escolhidos pelo Senhor do Universo jaziam
as tropas de Shinkun em ansioso aguardo a chegada de Adrian e seus aliados para
a batalha que decidiria o final da 4ª Era.”
Ao colocar as últimas letras ele
disse a mesma frase que eu falei antes de vir para essa memória “Nesse mundo
não há justiça” e colocou seu nome “Tyrannuz, O escriba universal”.
Fomos levados para
outra sala do farol. No entanto, o deus dos teleportes, se é que existe um
estava com vontade de brincar comigo, pois fui puxado para outro lugar,
deixando Bo Buxoa para trás...
Na segunda sala, outra dupla estava sendo testada,
Myphir e o cavalo do norte acordaram, assim como eu, em uma sala toda feita de
outro, mas com suas devidas peculiaridades. No centro, onde descansava o pilar
na primeira sala, havia um colosso dourado segurando uma espada. Não sou um
amante de espadas, mas ela aparentava ser uma montante para ele, enquanto que
para Myphir devia parecer um prédio. Ele de pé era do tamanho da sala e sua
espada tão grande quanto.
A
máscara surgiu pela primeira vez para eles advinda do rosto do colosso dourado
dizendo:
- Bem-vindo, a Executor da Sentença.
Após
isso ela sumiu, assim como fez na primeira sala. Só que dessa vez não foi um
paladino que surgiu, e para desgosto de qualquer pessoa usuária de magia ou
não, o colosso começou a se mexer. Ele teve que se abaixar e começar a girar
sua espada para que conseguisse lutar. A dupla composta por coragem e
violência, no mesmo momento entendeu o que precisavam fazer.
Placas de pressão estavam presas ao chão por
engrenagens, no entanto, apenas algo realmente pesado fariam elas se mexerem.
Eles fizeram uma pequena troca de palavras e começaram sua empreitada.
Rurik por ser o mais resistente chamou a
atenção do colosso para si e com isso fez a primeira placa de pressão ser
pressionada, mas isso não saiu barato. Um golpe que faria a maioria dos
guerreiros tombar com apenas a força do vento, acertou em cheio Rurik que
aguentou com toda força de sua ira sem fraquejar.
O
plano era atrair a estátua e por isso Myphir ficou mais na defensiva,
esquivando praticamente de todos os golpes, no entanto, Rurik não nasceu para
esse tipo de estratégia. Ele a encarnação da violência e da batalha não seria
derrotado por um gigante dourado sem lutar, então decidiu fazer uma ação que
apesar de imprudente, fez toda a diferença. Ele desistiu de toda sua defesa e
resolveu partir para o ataque, e não com seu machado como de costume, mas com
apenas a força bruta. Usando toda a força que anos de treino o deram ele
empurrou o gigantesco colosso, algo que parecia ser impossível e com isso
pressionando a segunda das quatro placas de pressão.
Mais uma vez essa manobra arriscada não saiu
barato, e por ter desistido de toda defesa, o segundo ataque veio seguido de
vários outros. Os golpes foram tão pesados que fizeram o chão tremer, mas o bravo
guerreiro ainda continuava de pé, só que dessa vez apenas com a força de sua
vontade, pois seu corpo já havia chegado ao limite...
Paralelamente em outra sala Jacob e Katzar,
os dois novos integrantes, jaziam em uma sala octogonal só que dessa vez não
era dourada, mas sim feita de mármore. Ela aparentava ser maior que as outras e
tinha algo que mostrava todas as outras salas em tempo real. No centro surgiu
mais uma vez a máscara, mas dessa vez do tamanho de um rosto humano.
- Bem-vindos, a Arquiteto do Corpo – disse
ela.
A máscara aparentava possuir rachaduras, e
pela primeira vez vimos o resultado das orações de Draven que ressoavam em
todas as salas. A máscara explicou ao garoto e ao pirata as regras dessa sala.
Eles poderiam trocar as pessoas de lugar de acordo com sua vontade, deixando os
dois confusos e indecisos.
Enquanto as duvidas tomavam suas mentes, o
arauto da Penumbra apareceu diante deles pela primeira vez. Eles não o
conheciam, mas já haviam ouvido as histórias dos membros mais antigos que
enfrentaram ele. Sabendo que seria uma batalha difícil o astuto ladino desferiu
golpes precisos em Draven que mesmo parecendo ser feito de sombras, sentiu
todas as perfurações da rapieira.
A batalha durou alguns segundos, mas o perigo
de morte era real, Jacob sabia que não poderia vencê-lo, mesmo com a ajuda de
Katzar, então tomou a decisão:
-
Troque Draven com o mago, ele saberá o que fazer – disse Jacob.
Como um comando universal Draven sumiu dali
e apareceu na sala onde estava Bo Buxoa e para minha surpresa eu apareci diante
de Jacob e Katzar. Jacob deu uma rápida explicação dos acontecimentos e como a
sala funcionava. Tendo pouco tempo para escolher, o que prendeu minha atenção
foi a sala onde Lyra estava. Ela lutava com um Dragão gigantesco que aparentava
ser feito de sombras, e para meu desgosto não estava levando a melhor.
Vingança, dor, desespero, tristeza e vários outros sentimentos negativos pude
ver expressados em seus olhos o que fez algo vir em minha mente como um
presságio... “Ela vai morrer”.
Olhei para Jacob e entreguei o colar que
havia pegado da Banshee. Ele havia virado uma chave depois de ter visto a
memória de Tyrannuz.
- Pegue isso, essa é a chave para trocarmos
de sala, use-a se precisar chegar no braseiro e o acenda com a Lyra – falei
Jacob
aparentava estar atordoado devido a sucessão de acontecimentos, mas ele é
alguém em quem podemos confiar quando precisamos. Ele pegou a chave e eu pedi a
máscara que me trocasse de lugar com a Lyra, e essa foi a pior decisão que já
tomei em minha vida...
Na sala onde Myphir e Rurik se encontravam
faltavam apenas duas placas de pressão para serem pressionadas, mas rurik
estava em más condições, então Myphir chamou a atenção do colosso. Ele foi até
Myphir que com muita maestria desviou de mais um ataque e continuou atacando o
colosso como podia. Rurik com o que sobrou de suas forças tentou mais uma vez
empurrar o colosso. Sua força parecia não ser o bastante, mas milagrosamente o
gigante começou a ser empurrado.
Cada
passo que Rurik dava para frente parecia que os espíritos de seus ancestrais o
estavam apoiando. A fúria de Rurik foi dão potente que conseguiu mover o
colosso, fazendo-o pressionar a terceira placa de pressão.
Exausto, Rurik estava a ponto de cair a
qualquer momento. Sabendo do que viria a seguir. A espada do colosso estava
erguida com o intuito de fazer sua função, que assim como o nome da sala, iria
executar seu inimigo.
Sem
forças para mover seu corpo, o bárbaro, olha uma última vez para seu irmão de
guerra Myphir. Seus olhos estavam cheios de convicção e um sorriso foi
desenhado em seu rosto, como alguém que conseguiu conquistar tudo que sempre
quis. Ele baixou a cabeça deixando seu pescoço amostra, aceitando seu destino.
A espada desceu e decapitou Rurik numa velocidade assustadora.
Nesse
momento o primeiro penetra, sucumbiu...
- Rurik! – Gritou Myphir.
O
corpo de Rurik desapareceu da sala, sem deixar sinal de onde foi parar. A sala
inteira e o colosso brilharam fazendo sumir sua espada e transformar-se em
soqueiras. O colosso então com nenhum sentimento aparente, virasse para Myphir
e começa ir em sua direção.
Antes
do corpo desaparecer Myphir pôde ver os ancestrais do nortenho junto a seu
corpo, tornando a cena ainda mais significativa. Com um ataque poderoso
provindo da ira do homem que viu seu aliado cair, mas com a determinação de
alguém que tinha uma missão a cumprir, fez o colosso cambalear apertando a
última placa de pressão.
Nesse momento o colosso desapareceu e uma
chave surgiu de onde ele estava, ele havia vencido o desafio, mas valeu apena?
Na
sala onde Jacob estava, Lyra surgiu ainda com posição de combate.
Assim
como eu Jacob finalmente
entendera os motivos por trás das atitudes de Lyra. Era algo que estava cravado
bem fundo na Deusa, em seu amago, um sentimento que o pirata conhecia bem.
Vingança.
Ele se perguntava como divindades poderiam
ter tais sentimentos
- Lyra – murmurou o pirata enquanto se a
aproximava da loira –, está tudo bem.
- O que vocês fizeram! – falou ela
aparentando quase desespero.
- Aloys trocou de lugar com você – disse
Jacob.
- Não! Eu tenho que voltar! – disse ela.
- Me
fale o que preciso fazer que eu farei Lyra – falou Jacob com sua rapieira em
mão.
Ela
falou que o braseiro precisava ser acesso e deu a lamparina para Jacob entregar
a Myphir. Depois pediu para a máscara trocar de lugar comigo outra vez, mas ela
não esperava que poderia me vencer em um teste de inteligência, não é? Apesar
de achar, que o que falou mais alto em minha decisão foi burrice...
Na sala onde Bo Buxoa e Draven estavam, havia
um caldeirão e lá formaram uma aliança para saírem dali. Draven claramente
poderia ter matado Bo Buxoa, mas aparentava ter planos melhores. Bo Buxoa por
não o conhecer acreditou em suas palavras e o ajudou para que os dois saíssem
da sala. Vencido o desafio uma chave surgiu e os dois foram em direção a sala
Arquiteto do corpo.
Ao
trocar de lugar com Lyra, esperava ver o mesmo dragão que ela estava
enfrentando, no entanto, o que vi foi apenas escuridão. Era algo tão
claustrofóbico que fazia-me sufocar, o medo tomou meu corpo achando que ficaria
lá sem uma chave para voltar ou um parceiro para me ajudar, eu estava sozinho.
A solidão em toda aquela escuridão não
parecia muito agradável, mas assim como o destino pode ser cruel, havia mais
“alguém” comigo. Olhos amarelos na escuridão começaram a se aproximar de mim.
Eu já havia visto aqueles olhos antes, mas dessa vez ele estava ali, deixando
meu corpo todo tremendo. Achei que quando chegasse a hora conseguiria enfrentar
aquela coisa, no entanto, apenas de olhar eu sabia que não havia a menor chance
de vencê-lo.
Li certa vez uma frase que dizia “Quando você
olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”. Era assim que
me sentia ali, olhando para o abismo e ele olhando para mim.
Quando eu estava quase entregando-me ao mais
puro medo, sem ter um lugar para fugir, eu lembrei-me dos meus antigos
companheiros que caíram. Todos sucumbiram em missões para chegar nesse momento
e eu não aguentava mais perder mais ninguém. Esse foi o motivo de eu ter
trocado com Lyra, seus olhos tinha uma vingança que certamente a mataria e não
posso permitir isso, então tentei um trato com a escuridão.
-
Vamos fazer um trato – comecei – faça com que Lyra não possa trocar comigo. Ela
provavelmente é bem mais problemática que eu para você, então faça isso.
A figura sombria balançou a cabeça em negação
o que me fez tentar outros tratos, mas todos foram negados. Não sei o motivo
dele negar todos eles, mas isso me fez ficar sem ideias. Quando estava quase
desistindo pensei em algo louco, mas que poderia dar certo. Coloquei a espada
de Bo Buxoa que estava comigo em meu pescoço e disse:
- Se você não quer negociar – os olhos dele
pela primeira pareciam curiosos, de um jeito inocente, e isso me deixou
intrigado – eu farei isso sozinho...
O
medo era real, mas uma imagem da minha mãe com um sorriso apareceu diante de
meus olhos e nesse momento todo meu medo se foi. E com convicção um sorriso em
meu rosto se abriu e tirei minha própria vida...
Na sala onde estava Jacob e Katzar, Lyra
surgiu ao mesmo tempo que Myphir.
- O
que aconteceu? – falou ela.
Olharam para a sala onde eu estava e lá viram
meu corpo caído e sem vida. Nesse momento entenderam que se não havia ninguém
para trocar, não teria como ela voltar para lá.
Com
desgosto Lyra foi obrigada a aceitar a realidade, mas isso não estava indo bem
em sua cabeça. Jacob tentou ajudar a deusa do jeito que podia de um jeito que
talvez nem ele mesmo soubesse que poderia.
- Lyra – murmurou o pirata enquanto se
aproximava dela –, está tudo bem.
Com passos suaves e braços abertos
ele se dirigiu até ela e há abraçou.
- Não é sua culpa. – Falou em um tom que só
ela poderia escutar – Eu entendo Lyra, você se culpa pela morte deles, pensa
que suas ações não foram suficientes para protege-los, se fosse mais forte
talvez eles estivessem aqui, se tivesse agido de maneira diferente eles não
teriam sido levados, se... – A voz do rapaz some aos poucos.
Ele que estava a alguns dias
aproveitando sua vida de pirata, agora estava em torno de magias que acreditava
estarem extintas. Mesmo assim,
delicadamente ele segurou o rosto dela e olhou em seus olhos, que estavam
marejados em lágrimas. Esse choro que estava a muito tempo guardado dentro de
si foi descarregado como um rio, descarrega suas águas no mar. Ela finalmente
tinha entendido que agora ela é uma de nós. Podemos não ser os antigos deuses,
mas ela pertencia aos Penetras e todos conseguiram fazê-la entender isso.
Jacob pega a lamparina que a Deusa havia
deixado com ele, juntamente da chave dourada que eu havia lhe confiado antes de
desaparecer.
- Vai precisar dessas coisas. – Disse Jacob
entregando os pertences para a Lyra.
Ela levanta a cabeça como se pela primeira
vez depois de ter saído do cristal estivesse vivendo, e vai em direção a sala
do braseiro, mas os planos foram arruinados devido a chegada de Bo Buxoa e
Draven.
Sabendo que foi enganado, Bo Buxoa prolifera
seus adorados xingamentos contra ele e coloca-se em posição de combate. Todos
na sala ficam prontos para o combate iminente.
Fora
do farol, uma batalha estava sendo travada contra os monstros da Penumbra. O
bárbaro que caíra, queria levantar-se mais uma vez como se a guerra o chamasse
para mais um combate.
Rurik levanta-se e percebe que eu estava
caído um pouco mais distante dele. Segurando minha cabeça e dessa vez sem
tapas, ele usou uma poção para me trazer de volta. Acordei quase não
conseguindo me mexer e olhando para Rurik percebi que ele estava na mesma
situação.
Nós
nos olhamos e sabíamos que precisávamos voltar e com a chave que ele conseguiu
na torre, usamos para voltar ao combate, cambaleando, mas felizes por termos
mais uma chance de lutar...